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terça-feira, 7 de junho de 2016

O Senhor do Frio

O vento uiva pelas colinas, anunciando a chegada do inverno.
As folhas secas que caíram no outono aos poucos vão sumindo comidas pela terra fria ou levadas em ciranda riacho abaixo.
Pelos campos afora o vento gélido assovia  boas novas
Os animais cautelosos constroem abrigos para se proteger do imponente senhor do frio que se aproxima
Nas casas do descampado observo as chaminés incansáveis, mostrando que lá o frio não entrará
Aos poucos nato a mudança nas vestes e os tornozelos desnudos que outrora se via já não são mais mostrados com frequência.
Um cheiro doce trazido pelo vento cortante, penetra pelas narinas me envolvendo num manto nostálgico, um sabor de canela e especiarias que me faz querer ficar ali para sempre.
Encostada na velha figueira de 100 anos  sinto a umidade do fim do dia soprando em minha nuca
Puxo o capuz do meu casaco numa tentativa de me aquecer mas o vento anuncia que é mais forte.
Num pulo estou de pé e desço pela colina apostando corrida com os andorin
hões que parecem ler meus pensamentos. O vento parece cortar meu rosto e meus olhos começam a lacrimejar mas não me importo pois a sensação de liberdade é muito maior que o pequeno desconforto sentido.
O casaco de pele curtida é pesado e atrapalha, o capuz foge da cabeça  por causa do vento dando liberdade aos cabelos que se esvoaçam como uma cachoeira negra... os andorinhões ganharam novamente!!!!! Acho que vai nevar essa noite pois a sensação de frio cortante deixou meu rosto dormente.
Ao chegar no povoado noto que todos me olham com uma cara estranha, diminuo a marcha corrida e me aproximo de um barril de água para olhar meu reflexo e noto que minha face esta rosada, na verdade  minhas bochechas estão vermelhas por causa do frio, e apesar da luz escassa do crepúsculo brinco mentalmente me achando com cara de palhaça? Dou um sorriso largo para o meu reflexo e saio aos pinotes a caminho de casa.
Ao adentrar fazendo barulho sinto o cheiro do pão, da sopa, do café recém terminados, prenuncio de que o jantar logo será servido.
-Hoje vai nevar! anuncio como que em tom de sentença.
Nenhuma resposta...
Os dias passam e a neve castiga severamente a terra, as plantações, os animais escondidos do frio não aparecem e nas noites gélidas ouço o vento ganir colina afora. Durante os intermináveis dias do rigoroso inverno ao longe observo com tristeza minha figueira solitária no alto da colina. Cobertas de neve suas verdes folhas parecem pontinhas negras.
Quando a neve começar a derreter e os primeiros pássaros cantarem na alvorada, voltarei ao alto da colina para ter com você, falo em pensamento olhando para a solitária árvore a me acenar de longe.
Dias frios, noites frias, incansável senhor do frio, horas eternas.... Tudo parece estar congelado.